domingo, 30 de setembro de 2012

Aquisições de Setembro



Neste mês adquiri pela primeira vez livros em segunda mão. Por um preço bastante acessível comprei"Calafrio" de Sandra Brown, escritora que há muito tempo desejava experimentar, e "Lição de Tango" de Sveva Casati Modignani.

Aproveitei também duas campanhas da Fnac. Na compra de "Milagre" de R. J. Palacio, ofereciam a obra "No Anexo" de Sharon Dogar. O primeiro já tive o prazer de ler e encontramo-nos perante uma obra soberba, com mensagens inesquecíveis. E, por fim, adquiri "Um Homem com Sorte" de Nicholas Sparks, que se encontrava com um desconto de 20%.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Milagre


Nome: “Milagre”

Autora: R. J. Palacio

Nº de Páginas: 368

Editora: Edições ASA

Sinopse: “August nasceu com uma deficiência genética que faz com que o seu rosto seja completamente deformado. Quando nasceu os médicos não tinham esperança de que sobrevivesse, mas sobreviveu. Vários anos e muitas cirurgias depois, August vai, aos 10 anos, enfrentar o maior desfio da sua vida. A escola. Contado a várias vozes, é uma história emotiva das dificuldades que tem de superar uma criança com uma terrível deformação e um relato do milagre que é a vida.”

Opinião: R. J. Palacio é uma escritora norte-americana, que iniciou a sua carreira como designer de capas e directora de arte. Com a sua obra de estreia “Milagre” conseguiu um enorme reconhecimento internacional, causando grande sensação entre os meios de comunicação. Considerado como um símbolo na luta contra o bullying nos Estados Unidos, levou inclusive a uma acção de recolha de assinaturas, que o tornou num dos livros mais vendidos nessa mesma semana.

August é um jovem cheio de sonhos e vitalidade, contudo nasceu com uma particularidade. Com uma doença genética rara, que lhe transfigura a expressão facial, este menino irá sofrer mais uma provação na sua vida, a entrada na escola. Durante os quatro primeiros anos de escolaridade foi a mãe a ensiná-lo e educá-lo, porém pensa que chegou a altura do seu menino conhecer algo mais do que aquilo que lhe poderá ensinar e que chegou a hora de deixar de o proteger tanto. O que inicialmente se mostra numa das maiores provações que este menino já atravessou, irá ser uma lição de vida para miúdos e graúdos.

As opiniões sobre esta obra são, na sua maioria, bastante positivas, o que me levou a iniciar as suas páginas, cheia de expectativa e logo após o ter adquirido. Penso que esperava um drama intenso, que abordasse o bullying de um modo veemente, devido ao tema e até a algumas opiniões que li. Mas a verdade é que, embora seja um tema triste, que por diversas vezes, quase me levou a deixar cair uma lágrima, e o bullying se encontre patente, é fundamentalmente uma história de amor, amizade, de luta, cheia de mensagens. Contada de um modo ligeiro e mágico, ou não fossem os nossos narradores crianças e jovens.

Nesta mágica obra somos apresentados a diversas realidades. Temos August que nasceu com esta particularidade e que, tal como a sua família, teve de aprender a lidar com as reacções dos outros e a gerir o modo como as pessoas o tratam. Para um menino tão pequeno foi fantástico presenciar a sua força, perseverança e modo de encarar os problemas de frente. É um rapaz que em dez anos de vida passou por muito e que ainda assim consegue arranjar forças para encarar cada novo dia com um sorriso.

Olivia, Via como é conhecida pela família, irmã de August, sempre foi o seu alicerce. Ao passo que a família e o próprio Auggie aprenderam a não ligar a certos comportamentos e reacções para com ele, Via não encara de ânimo leve estes actos. Defensora incansável do seu irmão mais novo, Via é uma personagem muito real, que mostra o ciúme pelos irmãos, mas fundamentalmente a necessidade de os proteger.

Os seus pais, que embora não sejam narradores, temos a possibilidade de os conhecer através de ambos os filhos, e que são bastante interessantes e apaixonados. Isabel é uma mãe dedicada, que tenta ao máximo proteger o seu menino, mas ao mesmo tempo mostrar-lhe o mundo que o rodeia, incutindo-lhe que não o deve recear, que deve encarar os problemas de frente. O seu marido é mais receoso de soltar o seu menino, com medo que os outros sejam mesquinhos com o filho, mas ao mesmo tempo um pai dedicado, divertido, que ama realmente os filhos.

Como restantes narradores temos Summer, Jack, Miranda e Justin, namorado de Via. Todos estes personagens irão ter um papel na vida de Auggie. Serão especialmente fundamentais os dois primeiros, que irão ser verdadeiros amigos deste menino e que o ajudarão a enfrentar os preconceitos e as represálias.

“Milagre” encontra-se repleto de significados. É uma história de força, de perseverança, de acreditar em dias melhores. Ao desfolhar esta obra senti que a vida é demasiado curta para lamentações e que muitas das vezes o que consideramos um problema ou um entrave de prosseguir um sonho, não são nada de importante se formos objectivos. August é a representação de todos os meninos que já passaram e passam por provações, que são verdadeiros heróis e que nos ensinam uma grande lição de vida. Através desta leitura é também defendido que nunca devemos desistir de um sonho, de sermos quem somos e de essencialmente sermos bons para quem nos rodeia.

Numa escrita autêntica, mágica e afectuosa, R. J. Palacio presenteia-nos com uma história repleta de momentos mágicos, que nos fazem não só pensar no mundo, no que nos rodeia, mas fundamentalmente em nós mesmo e naquilo a que damos prioridade.

“Milagre” foi uma obra que me deu o prazer enorme de ler, pela sua história tocante e personagens reais, que penso que deveria ser lida por todos os que gostam deste género de narrativa, pois tanto nos dá um aperto no coração, como nos afaga. Espero voltar a ler algo desta incrível escritora num futuro.

Frases a reter: "É engraçado como às vezes nos preocupamos tanto com uma coisa, e depois vimos a concluir que não é nada de especial."

“Às vezes não é preciso querer magoar as pessoas, para as magoar.”

“ "A nobreza”, escreveu Beecher, “reside não em ser-se forte mas no justo uso da força…” o mais nobre é aquele cuja força eleva mais corações atraídos pelo seu próprio coração.”

Avaliação: 4.5/5 (Gostei Bastante!)

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Esmeralda Cor-de-Rosa


Nome: “Esmeralda Cor-de-Rosa”

Autor: Carlos Reys

Nº de Páginas: 194

Editora: Papiro Editora

Sinopse: “Quem tem ideais na vida terá, certamente, um ou mais mentores que como faróis, lhe indicarão rumos certos de rota e escolhos a evitar. Raramente o mentor será um modelo de conduta tão abrangente que se ajuste a todas as facetas da vida. Assim podemos ter mentores no campo da vida familiar, da vocação profissional, da vida artística, da vida amorosa e até na vida religiosa. O autor, Carlos Reys, adaptou um mentor ficcional, Guilherme Esteves, que o terá inspirado para a vida e que ele escolheu como personagem condutor de uma saga de pessoas que preenchem o tempo que vai do após a Primeira Guerra Mundial até aos nossos dias e cujas existências vão colorir uma cidade portuguesa, banhada por um rio que é fonte de sustento e de evasão de um Portugal oprimido até à libertação do 25 de Abril de 1974.Não sendo um livro histórico o retrato das personagens que o habitam é pelas suas características uma referência da sociedade média de Portugal do século XX.”

Opinião: Carlos Reys, conhecido artista plástico, licenciado em Design Industrial, trabalha na Indústria de Moldes para Plásticas. Leitor compulsivo, lança em 2011 a sua obra de estreia, “Esmeralda Cor-de-Rosa”, através da Papiro Editora.

Esta obra não é simples de resumir, nem tão pouco de definir. Trata-se de uma obra repleta de histórias de Portugal, desde a primeira guerra mundial, ao 25 de Abril e mesmo à actualidade. É um relato bastante real de todos estes momentos que marcaram o mundo e o nosso país em específico, apresentando-nos personagens com histórias interessantes e autênticas.

Confesso que não tinha expectativas quando iniciei esta leitura, pois a obra era-me desconhecida até então. Contudo, foi uma surpresa agradável e até considerei o livro algo enriquecedor. Gostei dos momentos descritos referentemente à 1ª Guerra Mundial; antes do 25 de Abril, em que o ambiente conspiratório e de receio eram bastante palpáveis e o após 25 de Abril em que tudo muda; transpondo-nos para a actualidade com uma mensagem.

Todas as personagens que nos são apresentadas, ao longo das páginas deste volume, têm a sua história de vida, repleta de lutas, amor e perda. A personagem principal deste volume acaba por ser, no meu ponto de vista, Guilherme Esteves, pois as duas raparigas com maior destaque nestas páginas possuem uma ligação com ele. Tenho de admitir que não concordo plenamente com o título elegido para esta obra, pois as duas personagens femininas que têm ligação com Esteves possuem igual importância. Sara e Esmeralda Cor-de-Rosa são duas pessoas muito diferentes, que viveram no mesmo tempo, mas que ainda assim escolheram futuros completamente opostos e acaba por ser em roda destas duas personagens que toda esta trama se desenrola.

Gostaria de ter presenciado um maior desenvolvimento de todas as personagens, tal como um pouco das suas histórias. O ambiente histórico encontra-se muito bem contextualizado, quase como se nos tivesse a ser narrado por alguém que viveu em primeira mão aqueles momentos, contudo penso que as personagens teriam outro impacto no leitor, se tivessem sido desenvolvidas de modo mais aprofundado, tal como a sua história de vida em alguns casos.

Numa escrita fluída e cativante, Carlos Reys apresenta-nos histórias de portugueses, com todas as vitórias, tristezas e perdas inerentes à vida. Mostra-nos que todos nós temos um alicerce, pelo qual nos regemos. Possuindo também a mensagem que nunca é tarde para cumprir um desejo ou para satisfazer uma necessidade.

Em suma, “Esmeralda Cor-de-Rosa” foi uma obra cheia de histórias entrelaçadas, que se mostrou interessante e com algumas surpresas agradáveis.

Avaliação: 3/5 (Gostei!)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Alma Rebelde


Nome: “Alma Rebelde”

Autora: Carla M. Soares

Nº de Páginas: 288

Editora: Porto Editora

Sinopse: “No calor das febres que incendeiam a Lisboa do século XIX, Joana, uma burguesa jovem e demasiado inteligente para o seu próprio bem, vê o destino traçado num trato comercial entre o pai e o patriarca de uma família nobre e sem meios.
Contrariada, Joana percorre os quilómetros até à nova casa, preparando-se para um futuro de obediências e nenhuma esperança.
Mas Santiago, o noivo, é em tudo diferente do que esperava. Pouco convencional, vivido e, acima de tudo, livre, depressa desarma Joana, com promessas de igualdade, respeito e até amor.
Numa atmosfera de sedução incontida e de aventuras desenham-se os alicerces de um amor imprevisto... Mas será Joana capaz de confiar neste companheiro inesperado e entregar-se à liberdade com que sempre sonhou? Ou esconderá o encanto de Santiago um perigo ainda maior?”

Opinião: Carla M. Soares formou-se em Línguas e Literaturas Modernas, possui um mestrado em Estudos Americanos, Literatura Gótica e Film Studies, sendo também doutoranda no Instituto de História da Arte. Leitora, professora e escritora, Carla vê a sua obra de estreia, “Alma Rebelde”, ser publicada pela Porto Editora em 2012.

A história inicia-se em Portugal no século XIX, quando é acordado o casamento de interesse entre Joana e Santiago d’ Oriaga. Joana imagina que será certamente infeliz neste casamento arranjado, que lhe será atribuído um marido velho, que a tratará mal, tal como sucedeu à sua prima Ester, com quem mantém contacto regularmente. Contudo, acaba por conhecer um pretendente muito diferente daquilo que idealizava, em todos os aspectos.

As opiniões que acompanhei sobre esta obra eram bastante positivas, o que me levou a elegê-la como oferta, quando a Wook me ofereceu 15 euros para investir num ebook. Também afectou a minha decisão, o facto de ter decidido ler mais obras de Romance Histórico e obras de autores nacionais, porque era um dos géneros que pior conhecia e como admiti em opiniões anteriores, costumo ler muito mais obras estrangeiras do que nacionais, algo que sinto que tem de ser contornado.

Esta obra foi uma surpresa muito agradável, sendo que um dos pontos que me agradou foi o facto de a autora nos transmitir os ideais que vigoravam na altura descrita no livro, sem se tornar enfadonho, conseguindo contextualizar a história na nossa História. Foco este ponto, pois alguns Romances de Época, que já tive o prazer de ler, pecavam, no meu ponto de vista, por não nos transmitirem informações sobre o tempo em que se inserem. Na altura em que se passa esta narrativa, D. João V era rei e temos a possibilidade de conhecer um pouco sobre o que sucedeu no seu reinado, os problemas e os costumes que vigoravam na altura, o que foi bastante interessante e enriquecedor.

Quanto à história entre Joana e Santiago achei-a uma ternura e bastante real. Quando Joana está prestes a ir ter com o seu noivo, foi interessante constatar o seu debate interno, os seus receios e até sonhos. Transmitiu-nos muito bem a impotência de se ver obrigada a um casamento de conveniência e os receios de ser infeliz e maltratada, o que nos leva a sentirmo-nos ligados a ela e nos leva a torcer para que tudo lhe corra de feição. Ao ser confrontada com um noivo muito diferente daquilo que idealizara, conseguimos também perceber que não sabe bem como reagir para com ele, se deverá ser sincera, ou seja, ser ela mesma, ou se deverá ser o que a mãe sempre lhe incutiu. Os momentos vividos por este casal foram em certos momentos divertidos, tocantes, mas sempre enternecedores. A partir do momento em que conhecemos Santiago é impossível não torcer para que fiquem juntos e que a vida não lhes coloque qualquer entrave.

As personagens encontram-se muito bem desenvolvidas, de modo que nenhuma me deixou indiferente. Joana era uma rapariga inteligente, forte, com ideais desenvolvidos para a época em que se encontrava inserida, que sonhava com um casamento que não fosse contratual e que acaba por conhecer alguém que lhe provoca algum receio, mas ao mesmo tempo um enorme fascínio. Santiago é uma pessoa muito interessante, diferente dos homens da altura, algo impulsivo, mas tremendamente apaixonado. Alguns anos mais velho que Joana e também mais vivido, acaba por se apaixonar por ela e a sentir uma enorme ternura por esta jovem mulher, aspecto que é transparecido para nós leitores. Das personagens secundárias, poderia destacar Ester, a prima de Joana, que simboliza os casamentos infelizes que nesta altura sucediam e a busca pela felicidade e o pai de Santiago, que era bastante frio para com a família, muito ambicioso, mas sem qualquer olho para o negócio, que nos transmite alguma tristeza e irritação.

Numa linguagem muito cativante e enternecedora, Carla M. Soares presenteia-nos com uma história de amor possível, que temos a possibilidade de ver florescer e amadurecer; apresentando-nos também a luta por um sonho, pela felicidade que todos merecemos e que nunca devemos deixar de procurar. Sem dúvida, que foi uma obra que me deu um prazer enorme de ler e que espero poder voltar a ler algo desta promissora escritora.

Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)

domingo, 16 de setembro de 2012

Selo Versatile Blogger



Regras:

1 - Postar o selo e dizer quem me presenteou;
2 - Dizer 7 coisas sobre mim;
3 - Presentear 15 blogs com o mesmo;



O meu grande obrigada à Ana do blogue Devoradora de Livros, à Carolina do Era uma vez..., à Patrícia do Chaise Longue, à Maria d' O Imaginário dos Livros, à Ghost Reader, à Sofia do Morrighan, ao Luís do Ler y Criticar, à Filipa d' O Labirinto dos Livros, à Sandra do Mil Estrelas no Colo, à Maria João do Livros no Tempo, à Rute Canhoto e ao André do Saboreia os Livros por se terem lembrado de mim na hora de atribuir este selinho. :)


Agora a parte mais difícil, 7 Coisas sobre mim:

1 - Quando estou nervosa costumo ler ou correr, ouvindo música.
2 - Descobri recentemente uma banda que tem tocado constantemente no meu mp3, Daughtry. :P
3 - Acalento um dia tirar um curso de inglês.
4 - A minha viagem de sonho seria a Roma.
5 - Adoro animais.
6 - Nunca assisti a um concerto ao vivo.
7 - Dou muito valor à minha família e aos meus amigos.

Os 15 blogues que presenteio com este selo são:

A Rapariga dos Livros 

Atmosfera dos Livros
As Histórias de Elphaba
Bookeater/Booklover
Clorofórmio do Espírito
Cuidado com o Dalmata
Dear Stranger
Desabafos Agridoces
Monster Blues
Morrighan
Murmurei ao Vento 
O Labirinto dos Livros
Os Devaneios da Jojo
Os Livros do Lars
Pedacinho Literário


Obrigada mais uma vez a todos. Retribuo o carinho. :)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo


Nome: “A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo”

Autor: Stieg Larrson

Nº de Páginas: 611

Editora: Oceanos

Sinopse: Neste segundo volume da trilogia Millennium, Lisbeth Salander é assumidamente a personagem central da história ao tornar-se a principal suspeita de dois homicídios. A saga desenvolve-se em dois planos que se complementam e só a solução do primeiro mistério trará luz ao segundo: Há que encontrar os responsáveis pelo tráfico de mulheres para exploração sexual para se descobrir por que razão Lisbeth Salander é perseguida não só pela polícia, mas por um gigante loiro de quem pouco se sabe.”

Opinião: Stieg Larrson iniciou a sua carreira profissional como designer gráfico e anos mais tarde como jornalista, editor da revista Expo e escritor. Conhecido como um dos mais destemidos lutadores contra a extrema-direita nazista, sofreu por diversas vezes ameaças de morte. A 9 de Novembro de 2004 perece, devido a um enfarte, quando se dirigia para o seu escritório na revista Expo. Devido às ameaças de morte que sofreu e a sua luta incessante pelos direitos humanos, foi colocada em causa os motivos da sua morte, contudo tal possibilidade rapidamente se viu descartada.

Após ter lido o primeiro volume desta trilogia, “Os Homens que Odeiam as Mulheres”, que foi lançado inicialmente em 2005 e três anos mais tarde em Portugal, a expectativa de ler o segundo volume era muita. Stieg Larrson escreve deveras bem, conseguindo surpreender-nos constantemente.

Neste volume, Lisbeth Salander é considerada a principal suspeita de três estranhos assassinatos, que assolam um jovem casal que se encontrava a investigar sobre o tráfico de mulheres e exploração sexual. Para Mikael é difícil pensar que tenha sido Lisbeth, que tanto o auxiliou anteriormente, a causadora de tais mortes e inicia uma investigação de modo a desvendar o que se passou, aproveitando as notas deixadas pelo casal que faleceu, Dug e Mia. Enquanto a polícia persegue afincadamente Lisbeth, também ela se vê ameaçada por um estranho gigante loiro, que poderá colocar a sua vida em perigo.

Esta obra foi uma surpresa constante. Parti para esta leitura sem ter lido opiniões ou sequer a sinopse da obra, somente sabia que iria de certeza ver-me perante uma obra inesquecível. Por isso, nada me preparava que a Lisbeth, que aprendemos a gostar na anterior obra, a hacker, com um sentido de justiça muito próprio, mas que mesmo assim não seria capaz de fazer mal a ninguém, se esse alguém não a ameaçasse anteriormente, acabasse por ser suspeita por dois assassinatos e mais tarde por um terceiro. Nunca em momento algum pensei que ela pudesse ter algo a ver com estas mortes, pelo menos no que ao casal diz respeito, por várias razões, por serem um casal inocente, que só por um momento tiveram contacto com ela e porque se encontravam a desvendar um crime contra as mulheres e a Lisbeth é, sem dúvida, alguém que “odeia os homens que odeiam as mulheres”.

Adorei o modo como o escritor criou todo o cenário por detrás do tráfico de mulheres e exploração sexual e como conseguiu encaixar todas as peças na perfeição. Durante a obra, apanhei-me por diversas vezes a pensar no que se passaria seguidamente, a tentar desvendar por mim mesma os mistérios e a ligação entre as personagens, contudo Stieg Larrson conseguiu surpreender-me da primeira à última página. Não tenho dúvidas nenhumas que Stieg Larrson era uma mente brilhante, muito parecido a Lisbeth Salander, só tenho pena que tenha falecido tão prematuramente e que não tenha escrito mais obras desta incrível trilogia, que sinto que se irá tornar numa das minhas preferidas.

Relativamente às personagens, Lisbeth continua a ser a minha personagem preferida na trilogia. Foi muito bom poder conhecê-la melhor e saber mais sobre o seu passado. Tinha mais ou menos ideia do que ela teria feito para ter sido internada, contudo o resto, quem eram os seus pais e tudo o que teve de passar devido a essa revelação, nem em sonhos me tinha passado tal possibilidade. Com estas revelações, do seu passado e do modo como foi tratada antes de se tornar adolescente, conseguimos perceber muita da sua dificuldade em expressar-se e em confiar nos outros. É frustrante sentir que por causa de um segredo, Salander foi abusada das mais diversas formas e teve de aprender a sobreviver por si mesma.

Quanto a Mikael nesta obra foi importante para o desenrolar dos acontecimentos e gostei de o ver defender tão afincadamente Lisbeth. É, sem margem para dúvidas, alguém perspicaz, que sabe procurar nos sítios certos a informação certa. Foi bom vê-lo tão focado e a fazer o que melhor sabe fazer, demonstrando que realmente sente uma amizade sincera por esta hacker.

Numa escrita compulsiva, que nos consegue surpreender constantemente, Stieg Larrson apresenta-nos uma obra algo descritiva, que, no meu parecer, só confere mais substância à sua história. Utilizando referências matemáticas, que tenho de confessar que me agradaram e que me apanhei a resolvê-las, tal como algumas alusões a termos da psicologia, que tornam esta obra ainda mais especial.

Este segundo volume traz toda uma nova visão sobre Lisbeth e com o seu final em aberto deixa-nos expectantes pelo seguinte volume, “A Rainha no Palácio das Correntes de Ar”.

Frases a reter: "Não há inocentes. Há apenas diferentes graus de responsabilidade."

Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Um livro, uma adaptação - Sempre que te Vejo


Título Original: “Charlie St. Cloud”

País de origem: EUA / Canadá

Género: Romance / Drama / Fantasia

Ano de Lançamento: 2010

Ben Sherwood, escritor, jornalista e empresário, nasceu a 12 de Fevereiro de 1964. Em 1996 escreve o seu primeiro romance, “Red Mercury” e oito anos depois lança “The Death and Life of Charlie St. Cloud”, que em português possui o título “O Espírito do Amor”, que acompanha a jornada de Charlie entre os dois mundos, a vida e morte, desde que o seu irmão faleceu.

Charlie e Sam são ambos amantes de basebol e partem para ir ver um jogo dos Red Sox, contudo acabam por ter um acidente rodoviário, que infelizmente é fatal para Sam. Depois deste acontecimento, Charlie, que sempre amou o irmão, promete nunca o abandonar e começa a visitar todos os dias há mesma hora o local onde costumava jogar basebol com ele. Neste local consegue ver e falar com o irmão, brincando e falando de tudo um pouco. Quando reencontra Tess, uma antiga colega de liceu, apaixona-se por ela e começa a compreender que tem de se agarrar à vida e tentar seguir em frente.

Dirigido por Burr Steers, a adaptação cinematográfica teve como protagonistas Zac Efron (Charles Percival St. Cloud), Charlie Tahan (Samuel St. Cloud) e Amanda Crew (Tess Carroll).

Não tenho por hábito ver as adaptações cinematográficas antes de ler a obra, contudo desconhecia que este filme tinha sido inspirado na obra de Ben Sherwood. Só depois de ter visto o filme e de ter feito uma pequena pesquisa é que o descobri.

Tenho de confessar que me custou um pouco entrar na história, pois o filme tem uma grande vertente de fantasia no que ao após a morte diz respeito. Todos nós já nos perguntámos o que haverá para além da nossa existência terrena, o que neste filme é-nos mostrado que as pessoas continuam connosco e que as podemos observar, se tivermos essa capacidade, essa predisposição para ver para além do objectivo e conciso. Acho um ponto de vista bonito, todos nós gostaríamos de ter sempre presentes, aqueles que amamos, contudo a verdade não é essa e o meu lado céptico levou-me a não concordar plenamente com esse aspecto.

Quanto à encarnação das personagens, embora tenha gostado de ver o Zac Efron noutro contexto, senti falta de uma maior contextualização da personagem. Não sei até que ponto é que este facto é culpa do actor ou se no livro tal também sucede, mas senti que faltava uma maior pormenorização nesse sentido.

O filme tem um tema interessante, mostra-nos que devemos abarcar a felicidade e que não devemos viver eternamente no passado, tendo também uma mensagem sobre o amor e a esperança de melhores dias e de contornar a dor da perda de alguém que amamos. Porém, não consegui sentir-me realmente apegada à história, possivelmente por ir contra os meus ideais no que ao após a morte diz respeito ou à falta de um maior enraizamento das personagens. 

Sinceramente, não sei se lerei a obra. Quem sabe, se encontrar uma promoção tentadora. Afirmo-o não tendo como foco exclusivamente a adaptação cinematográfica, pois a experiência ensinou-me que as obras são sempre mais enriquecedoras e que nenhum livro deve ser avaliado tendo em conta somente o filme, mas li opiniões do livro que não o destacam.



sábado, 8 de setembro de 2012

Demência


Nome: “Demência”

Autora: Célia Correia Loureiro

Nº de Páginas: 400

Editora: Alfarroba

Sinopse: “No seio de uma aldeia beirã, Olímpia Vieira começa a sofrer os sintomas de uma demência que ameaça levar-lhe a memória aos poucos. A única pessoa que lhe ocorre chamar para assisti-la é a sua nora viúva, Letícia. Mas Letícia, que se faz acompanhar das duas filhas, tem um passado de sobrevivência que a levou a cometer um crime do qual apenas a justiça a absolveu.

Perante a censura dos aldeões, outrora seus vizinhos e amigos, e a confusão mental da sogra, Letícia tenta refazer-se de tudo o que perdeu e dos erros que foi obrigada a cometer por amor às
filhas. O passado é evocado quando Sebastião, amigo de infância de Olímpia, surge para ampará-la e Gabriel, protagonista da vida paralela que Letícia gostaria de ter vivido, dá um passo à frente e assume o seu papel de padrinho e protector daquelas três figuras solitárias…”

Opinião: Célia Correia Loureiro, licenciada em Informação Turística, começou desde muito cedo a escrever as suas histórias. Com algumas obras da sua autoria terminadas, lança em 2011 a sua obra de estreia “Demência”, através da editora Alfarroba.

Olímpia Vieira começa a demonstrar sinais de demência, quando se começa a esquecer de tratar dos seus animais, algo que ela sempre fez religiosamente.  Uma vizinha preocupada com a idosa contacta a única família da mesma, a sua nora viúva, Letícia. Contudo, Letícia e as suas filhas não são bem recebidas na aldeia, pois a primeira tem um passado recheado de dor e um crime do qual foi absolvida pela justiça, mas que os aldeões não compreendem e condenam.

Letícia tentará apesar de toda a censura dos aldeões e o alzheimer da sogra refazer-se e recomeçar a sua vida com as suas meninas. Quando Sebastião, amigo de infância de Olímpia, surge para ajudá-la, tudo se torna mais simples e esclarecedor, o que aliado ao reencontro com Gabriel, amigo dela e do seu ex-marido, Letícia começa a idealizar como poderia ter sido a sua vida se tivesse realizado outras escolhas.

Não tenho por hábito ler obras de autores portugueses, o que me envergonha admitir, mas com tantas obras a serem lançadas constantemente, acabo infelizmente por descorar o que é nacional. Esta obra foi adquirida depois de ter lido inúmeras opiniões bastante positivas, que me deixaram muito curiosa, e de ter sido contactada pela autora, que se disponibilizou a enviar-ma, com direito a uma dedicatória. Aproveito para lhe agradecer as simpáticas palavras e pelo modo atencioso como acompanhou a minha leitura.

Esta história encontra-se recheada de temas sensíveis e bastante reais, que todos nós de alguma forma já contactámos, a violência doméstica, alzheimer e a tacanhez de espírito característica das pequenas aldeias. Agradou-me a escolha dos temas deste volume, que embora sejam temas pesados foram descritos de um modo muito genuíno e agradável, que nos leva a ler e saborear a obra de uma assentada, com uma enorme necessidade de descobrir o que irá suceder a estas personagens, que desde o início aprendemos a gostar.

Durante esta leitura foram vários os sentimentos que a autora me conseguiu transmitir. Olimpia foi uma das personagens que mais se alterou no modo como a observava. Inicialmente, causavam-me alguma irritação, pelo modo como tratava a nora e as suas netas, mas ao mesmo tempo alguma tristeza e em parte compreensão. Tristeza porque é muito triste quando sentimos que as nossas memórias nos escapam por entre os dedos e que deixamos de conseguir ser donos das nossas vidas e de reconhecer as pessoas de quem mais gostamos. Senti alguma compreensão por ela, pois quando temos filhos, acredito que para nós são perfeitos e que nos seja difícil acreditar que fossem capazes de fazer algo de mal. Acredito que o facto de ser privado a alguém o seu único filho, que amou de todo o coração, depois de todas as provações porque passou para o ter, modifique qualquer um.

Letícia é uma personagem cheia de força e perseverança. Vítima de violência doméstica durante anos a fio, acaba por ter de fazer uma escolha que muda para sempre a sua vida e a dos que a rodeiam. Esta personagem mostra que por vezes a vida nos coloca em situações, de tal modo extremas, que somos obrigados a agir de um modo que pode ser condenado pela sociedade, mas que num ambiente de medo e desespero era a melhor atitude. Gostei de tal modo desta personagem, que senti as suas vitórias e tristezas quase como se fossem minhas. É, sem dúvida, uma personagem muito real, que poderia realmente ter existido. Como a autora afirma “as histórias que conto não são a história de ninguém, mas serão certamente a história de alguém”.

Das restantes personagens, Sebastião mostrou ser um homem com um coração de ouro, capaz de tudo pela pessoa que sempre amou e por quem sempre teve uma enorme consideração. É, graças a ele, que ficamos a saber mais sobre Olímpia e o seu passado, o que aliado a tudo o que faz por Letícia e as suas meninas, o tornam numa das personagens mais interessantes e inesquecíveis desta obra.

Gabriel, inicialmente mostra ser um pouco distante e frio para Letícia, o que é compreensível, pois embora sempre tenha amado esta mulher, ela era casada com o seu melhor amigo, que conheceu durante toda a vida. Contudo, é só uma questão de tempo até compreendermos quão bom consegue ser e o que estará disposto a fazer por esta pequena família, que já perdeu tanto.

Das meninas, Maria e Luz, confesso que gostei muito da segunda. Ambas foram obrigadas a crescer mais depressa do que as crianças normais, por tudo o que atravessaram durante as suas infâncias, contudo Luz é a única que tem memórias mais vivas de tudo o que se passou entre os pais e embora tenha só 10 anos, parece ser muito mais madura.

Quanto ao ambiente rural encontra-se bastante bem desenvolvido, o facto de toda a gente se conhecer e cumprimentar quando se vê; a entreajuda característica das aldeias e pequenas povoações; os boatos e as picardias; tal como os problemas financeiros e sociais, transportam-nos para aquela aldeia beirã. O modo como estas pessoas tratam Letícia, causa-nos tristeza e irritação por serem tão tacanhos de espirito, preconceituosos, possuidores de ideias pré-concebidas, por obrigarem esta lutadora a atravessar mais problemas e controvérsias, após tudo o que teve de passar, mas também pela hipocrisia e falsidade que reina naquele ambiente.

Como aspecto negativo da obra, a única coisa que tenho a salientar, é a revisão do livro, pois, em alguns momentos, tive de reler frases de modo a compreender a mensagem transmitida. Não foi algo que sucedesse com muita frequência, mas fica a nota para uma segunda edição.

Numa escrita imensamente cativante, muito genuína e delicada, Célia Loureiro apresenta-nos uma história repleta de luta, esperança por dias melhores, de amor e traição, alegria e tristeza, que nos prendem a esta narrativa da primeira à última página. Aguardo com expectativa a seguinte obra desta escritora, que tem tudo para vingar, "O Funeral da Nossa Mãe".

Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O Exorcista



Nome: “O Exorcista”

Autor: William Peter Blatty

Nº de Páginas: 344

Editora: Edições Gailivro

Sinopse: “Publicado pela primeira vez em 1971, O Exorcista tornou-se não só um fenómeno literário como um dos livros mais assustadores e controversos alguma vez escritos. A história centra-se em Regan, a filha de doze anos de Chris MacNeil, uma ocupada actriz que reside em Washington D.C. A criança aparenta estar possuída por um demónio ancestral e cabe a dois padres a dura tarefa de o exorcizar, arriscando a sanidade e a própria vida. O Exorcista transcendeu as páginas escritas e saltou para o grande ecrã, onde se tornou uma referência incontornável do cinema. Mas se pensa que o filme é assustador, leia o livro. Até porque o filme nem chega a aflorar a ponta do iceberg! Propositadamente crua e profana, O Exorcista é uma obra com a capacidade de nos chocar, levando-nos a esquecer que "é apenas uma história".”

Opinião: William Peter Blatty escritor e roteirista, nascido em Nova Iorque e formado na Universidade de Georgetown, possuiu inúmeras profissões até em 1960 publicar a sua primeira obra “Wich Way to Mecca, Jack?”, um relato humorístico do tempo que passou no Líbano, como elemento da US Information Agency. Em 1971 é lançada, pela primeira vez, a obra que marcou a sua carreira como escritor, “O Exorcista”, que segundo alguns boatos terá sido baseado num exorcismo real, com o qual o escritor teve contacto. Este livro permaneceu 57 semanas no top de vendas do New York Times, 17 delas no número 1. Em 1973 transforma este volume num guião, que se tornou num dos mais famosos filmes de terror de sempre.

Regan McNeil é uma menina de 11 anos, normal, cheia de alegria e vitalidade, até ao dia em que começam a ocorrer estranhos acontecimentos com ela. O que inicialmente parecia ser somente uma tentativa de chamar à atenção e mais tarde todo o género de patologias físicas e psíquicas, demonstra ser afinal uma possessão demoníaca. A mãe desta menina, Chris uma famosa actriz, depois de todos os exames se mostrarem inconclusivos recorre à ajuda de um jesuíta local, o padre Damien Karrasm, que é também psiquiatra. Inicialmente analisa a menina sobre o ponto de vista da ciência, embora Chris lhe destaque que tudo foi analisado e tentado, chegando à mesma conclusão, que só poderá ser algo para além da ciência e da racionalidade. Juntamente com um importante padre, Merrin, Damien irá tentar expulsar este estranho ser de Regan, o que poderá colocar em causa as suas próprias vidas e sanidade mental.

As opiniões que acompanhei sobre esta obra eram todas bastante positivas, o que me levou a lê-la pouco depois de a ter adquirido e com alguma expectativa. Confesso que este género literário é dos que conheço pior, até porque, mesmo no que aos filmes diz respeito, não é o meu género de eleição, embora goste de ver ou ler, por vezes, algo deste género.

“O Exorcista” é, como a premissa subentende, um livro arrepiante, que nos deixa a pensar onde termina a imaginação e começa a realidade. O facto de ser encabeçado por uma menina torna o livro ainda mais angustiante e assustador porque a única coisa que desejamos a crianças desta idade é segurança, alegria e que a sua vida seja o mais saudável possível.

Quando temos um filho e ele adoece, sentimo-nos impotentes e desgastados por não podermos fazer nada para o remediar, mas e quando é algo que nem médicos e terapeutas podem solucionar? William descreve muito bem esta impotência e desgaste de Chris, que tenta ao máximo ajudar a sua filha, através de todos os médicos possíveis, em todas as áreas imagináveis, sem conseguir encontrar uma solução. Ela, que nunca acreditou em Deus, vê-se obrigada a recorrer à sua última oportunidade, um jesuíta, de modo a que o mesmo tente a única solução que ela não experimentou, um exorcismo. Quase no final da obra somos apresentados a uma mãe, que perdeu toda a sua vitalidade e força de viver, porque nada pode fazer para ajudar a sua menina e porque não sabe quem se apoderou do corpinho da sua Regan.

As descrições deste livro são soberbas, especialmente nos momentos de possessão, que tornam o livro arrepiante e bastante real. Quando admito que à medida que o lemos não sabemos onde começa a termina a imaginação e a realidade, centra-se neste facto. Embora eu goste de pensar que não acredito neste género de coisas, a verdade é que me arrepiou ler esta obra e as vivências destas pessoas.

Relativamente às personagens, penso que se encontram bastante reais, embora sejam um pouco apagadas pelo ser que se encontra dentro de Regan, como se pode prever. Chris, como salientei anteriormente, transmite deveras bem a dor e impotência de uma mãe, que infelizmente, nada pode fazer para ajudar a sua menina. Damien demonstra o questionamento que muitos de nós sentimos ao longo da vida sobre a religião, Deus e o Demónio. Como Agnóstica que sou, vivo um pouco nesse limiar, onde não creio nem descreio em Deus e nesse aspecto revi-me um pouco nesta personagem. Este estranho ser que vive em Regan encontra-se muito bem retratado. Os seus objectivos, o seu passado e os seus actos encontram-se de tal modo bem descritos que nos levam a crer que estes acontecimentos poderiam realmente ter acontecido.

Numa escrita soberba, com descrições fantásticas e personagens reais, William Petter Blatty apresenta-nos uma obra de terror inesquecível, que irá agradar certamente aos amantes deste género.

Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Hex Hall



Nome: “Hex Hall”

Autor: Rachel Hawkins

Nº de Páginas: 240

Editora: Edições Gailivro

Sinopse: “Virei-me para sair, mas a porta fechou-se a poucos centímetros da minha cara. De repente, um vento pareceu soprar através da sala e as fotografias nas paredes chocalharam. Quando me virei de novo para as raparigas, estavam as três a sorrir, os cabelos a ondularem-lhes a volta dos rostos como se estivessem debaixo de água. O único candeeiro da sala tremeluziu, e apagou-se. Eu apenas conseguia distinguir faixas prateadas de luz que passavam sob a pele das raparigas, como mercúrio. Até os seus olhos brilhavam.Começaram a levitar, as pontas dos sapatos regulamentares de Hecate mal tocando a carpete musgosa. Agora, já não eram rainhas do baile de finalistas, nem supermodelos – eram bruxas, e até pareciam perigosas. Apesar de me debater contra a vontade de cair de joelhos e colocar as mãos acima da cabeça, pensei, “Eu também seria capaz de fazer aquilo?”

Opinião: Sophie Mercer é uma jovem a quem os poderes de bruxa despertaram quando se tornou adolescente. Desde esse momento que passou a ter grandes dificuldades em controlar os mesmos, em parte porque a sua mãe não possui quaisquer poderes e nunca contactou com o seu pai, de quem os herdou. Ao realizar feitiços, que acabam invariavelmente de modo desastroso, começa a chamar atenções sobre si mesma e a colocar em risco os restantes seres sobrenaturais, Prodigium como são denominados nesta obra. Como sanção por estes feitiços que chamam atenções indesejadas e como modo de ensiná-la a lidar com os seus poderes, é enviada para uma escola correctiva destes seres sobrenaturais, Hecate Hall, Hex Hall como os alunos a designam.

Nesta escola além do sistema rigoroso, tem também a particularidade de possuir inúmeros seres que Sophie pensou que somente existissem na literatura, desde fadas, imutáveis, lobisomens, fantasmas e até vampiros, os quais foram admitidos há pouco tempo na escola. A companheira de Sophie é, nada mais, nada menos, que uma vampira, que por sinal perdeu a sua anterior companheira por causas estranhas, falando-se abertamente na escola que terá sido Jenna a assassiná-la. Quando outras mortes começam a ocorrer, as culpas recaem sobre Jenna, mas Sophie que aprendeu a gostar da sua companheira de quarto, que é efectivamente a sua única amiga na escola, tentará ao máximo ajudá-la.

As opiniões que acompanhei sobre esta obra não eram unânimes, o que me levou a considerar e a desconsiderar lê-la por diversas vezes. Com a recente campanha da Fnac, com diversas obras da 1001 Mundos a 3.50 euros decidi arriscar, não indo com qualquer expectativa.

“Hex Hall” é uma obra bastante leve, que não exige muito do leitor, muito pelo contrário, boa para passar algumas horas na sua companhia. O tema não é original, por diversos momentos apanhei-me a pensar em “Harry Potter”, por exemplo, contudo penso que contém uma personagem principal cativante e uma escrita compulsiva.

Sophie é uma adolescente muito sincera, tanto para consigo, como para com os que a rodeiam, não tendo qualquer receio de represálias. É uma rapariga muito sarcástica e divertida, que tem alguma dificuldade em fazer amigos, contudo tem a capacidade de compreender que mais vale ter poucos, mas sinceros e pelas melhores razões, do que vários, que nada de bom nos trazem. Penso que é uma personagem bastante forte e carismática, que numa história mais original, tinha tudo para vingar.

Das restantes personagens, a única que me chamou mais à atenção foi o par romântico da nossa personagem principal, que parecia ser um rapaz interessante, com muito para conferir à história. Porém, merecia e precisava de ser melhor desenvolvido, para que nos cativasse realmente. De resto todas as personagens são um eterno cliché, que não deixam qualquer marca.

A componente mágica da obra deixa muito a desejar, pois não é aprofundada devidamente. Quando Sophie descobre através de um ancestral quem é realmente, embora tenha sido interessante, esta descoberta, e quem lha transmitiu, novamente não foi desenvolvida da melhor forma.

A escrita é compulsiva, por ser um livro muito leve, o que nos leva a ler a obra de uma assentada. O humor embora esteja patente, a mim não me arrancou qualquer sorriso, mas penso que o poderá fazer na faixa etária a que se destina. É, sem dúvida, uma obra para jovens, quiçá para alguém que ainda está a aprender quão bom é ler por prazer e o mundo do fantástico, mas que não traz nada de novo para um leitor mais experiente.

Avaliação: 2.5/5 (Está Ok!)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A Rapariga dos Pés de Vidro


Nome: “A Rapariga dos Pés de Vidro”

Autor: Ali Shaw

Nº de Páginas: 312

Editora: Guerra & Paz

Sinopse: “Ida Maclaird sofre de um mal misterioso e assustador – lentamente o seu corpo começa a transformar-se em vidro. Regressa então à Terra de Santo Hauda, onde acredita que tudo teve início, com a vaga esperança de encontrar o único homem que poderá ser capaz de curá-la. Midas Crook é um jovem solitário, que viveu toda a vida naquelas ilhas. Quando conhece Ida, sente que há qualquer coisa naquele espírito triste e desafiador que perpassa as suas defesas emocionais. Poderá o amor de Midas impedir que Ida se transforme em vidro?”

Opinião: Ali Shaw, livreiro e colaborador na Biblioteca de Bodleian em Oxford, lançou em 2010 a sua obra de estreia “A Rapariga dos Pés de Vidro”, que recebeu no mesmo ano o prémio Desmon Elliot Prize 2010.

Nesta obra somos apresentados ao casal Midas e Ida, que se conhecem no misterioso arquipélago de Santo Hauda. Midas Crook, um amante entusiástico de fotografia, que trabalha como florista na loja de um grande amigo seu, é um jovem tímido e reservado, que tem dificuldade em dar-se a conhecer aos outros. A fotografia acaba por ser um escape, onde investe, em vez de o fazer no role afectivo. É um jovem com um passado triste, perde o pai muito cedo e acaba por ganhar uma enorme animosidade pelo mesmo. Ida Maclarid é uma jovem aventureira, amante do bom que a vida tem para oferecer, que, de um momento para outro, se começa a transformar progressivamente em vidro. Também esta jovem perdeu a sua mãe muito cedo e irá viver com o seu tio em Santo Hauda, Carl Maulsen, que sempre amou silenciosamente a sua mãe. Midas e Ida acabam por se apaixonar, o que levará este primeiro a tentar salvar a sua amada.

Adquiri esta obra graças a uma sugestão que me fizeram no Goodreads e a uma promoção realizada no início deste ano pela Bertrand, fica aqui o meu agradecimento pela sugestão.

Foi uma surpresa bastante agradável esta obra, pois é diferente de tudo aquilo que li até agora dentro do género. Considero a história bastante original, a particularidade dos seres se transformarem em vidro, devido a uma estranha criatura, que transforma tudo com que contacta neste material. Além desta particularidade somos também apresentados a curiosos insectos fora do comum, que uma das personagens tenta ao máximo proteger.

Estes ingredientes são interessantes e conferem um ambiente mágico à trama, contudo o que nos prende e maravilha é a história de amor impossível entre Midas e Ida e as próprias personagens, que são tremendamente reais.

Midas, como referi anteriormente, é um rapaz muito tímido, com uma dificuldade enorme de criar laços, especialmente no que ao amor diz respeito. Este personagem cria um misto de sentimentos no leitor. Por um lado, senti compreensão por ele porque, por vezes, passamos por tantas provações que se nos torna difícil abarcar em relações ou entregar-nos a alguém. No caso deste jovem foi criado por um pai que nunca demonstrou apreço pela sua mulher, que era tímido e acanhado, refugiando-se na leitura, colocando de parte o melhor que a vida tem para nos oferecer, as relações que mantemos ao longo da mesma. Por outro lado, causava-nos um sentimento de irritação, pois tanta timidez e salvaguarda, embora seja instintiva e difícil de contornar, fá-lo perder muito do que a vida tem para lhe dar.

 Sendo estas duas das mensagens da obra. A primeira que a educação que recebemos molda a pessoa que seremos num futuro, o que poderá ser positivo, mas que nos poderá incutir receios e dificuldades de seguir em frente e de abarcar a felicidade. A segunda, que devemos aproveitar o melhor que a vida tem para oferecer e que nunca devemos deixar nada para amanhã, pois a vida é demasiado curta para ser desperdiçada, sem agarrarmos com unhas e dentes o que ambicionamos.

Ida é uma jovem que experimentou de tudo um pouco nos seus vinte anos de vida, uma aventureira, que experimentou inúmeros desportos radicais, que visitou os quatro cantos de mundo, mas que infelizmente vê a sua vida ser colocada em risco por esta misteriosa particularidade de se começar a tornar em vidro. Quando conhece Midas, fica encantada com o modo deste jovem, tentando ao máximo perfurar o seu escudo e iniciar uma relação com o mesmo. Graças a ela, Midas compreende que terá de enfrentar os seus medos de frente, pois como se costuma dizer, os medos são como os pesadelos, quando acordamos desaparecem. Foi uma personagem que igualmente nos transmitiu diversos sentimentos. Tristeza por ser tão jovem e cheia de vitalidade, contudo sem ter grande possibilidade de contornar este obstáculo, sendo enorme o sentimento de impotência e desconforto de saber que alguém com a vida toda pela frente, poderá não encontrar uma solução para este problema e, por outro lado, por ser tão forte e destemida pelos outros.

Relativamente à escrita, Ali Shaw possui uma escrita mágica, com uma beleza indescritível. Possuidor de descrições soberbas, de personagens imensamente bem retratadas e genuínas, que nos transportam para este arquipélago e nos levam a crer que esta história poderia realmente ter acontecido. A escrita leva-nos em certos momentos a ler a obra mais devagar, devido às descrições, contudo não o considerei um aspecto negativo, pois apreciei realmente o seu estilo.

O aspecto negativo que apontaria seria porventura o final, pois foi deixado demasiado em aberto. No que ao casal da trama diz respeito, gostei de eu mesma idealizar o final que achei mais propício, contudo no que à estranha criatura se refere, gostaria de ter sabido mais, de ter compreendido mais sobre ela.

Esta obra, portadora de mensagens intemporais, mostra-nos que o amor quando genuíno, vence qualquer barreira e que nunca devemos desistir de procurar a pessoa que amamos. É, sem dúvida, uma obra muito especial, original e repleta de mensagens e pequenos momentos deliciosos.

Não posso afirmar que a recomendo a toda a gente, pois encontramo-nos perante uma obra muito singular, porém fiquei rendida e seguirei atentamente as seguintes obras do autor, que sejam publicadas na língua de Camões.

Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)

domingo, 2 de setembro de 2012

Tabu


Nome: “Tabu”

Autora: Jess Michaels

Nº de Páginas: 240

Editora: Quinta Essência

Sinopse: “Ao perderem-se no êxtase erótico que volta a renascer entre eles, Nathan Manning, conde de Blackhearth e Cassandra Willows, a mais famosa costureira de Londres e criadora de "brinquedos" sexuais, estão a tentar a sorte - ficando vulneráveis a um passado que ainda ameaça destruir as suas vidas e a sua paixão; à mercê de segredos sombrios e tácitos que são chocantemente, perigosamente… tabu.”

Opinião: Jess Michaels, considerada a estrela do romance sensual, apresenta-nos em “Tabu” o par Nathan Manning, conde de Blackhearth e Cassandra Willows, a mais prestigiada costureira de Londres e clandestinamente criadora de objectos de prazer.

Quando jovens partilharam um amor impossível, o que os leva a decidir fugir para poderem ser felizes longe dos pais de Nathan, que nunca concordariam com esta união. Contudo, no dia em que seria suposto fugirem, Cassandra não aparece no local combinado, o que aliado a uma carta que o pai de Nathan diz ter interceptado entre Cass e o seu amante, o deixa destroçado e o leva a sair do país e rumar à índia.

Ao retornar vem com uma enorme sede de vingança e um desejo enorme de poder estar novamente com a mulher que foi em tempos a pessoa mais importante para si, o que o leva a fazer chantagem com Cass, para que a mesma seja sua amante.

Tenho de confessar que adquiri este livro por causa da capa, que é absolutamente fantástica e que não sabia o que iria encontrar com esta leitura. Só quando recebi a encomenda é que percebi que se tratava de um romance sensual.

Relativamente à chantagem de Nathan, tenho de admitir que foi um dos pontos que me fez real confusão porque por muito magoado e traído que ele se sentisse, pela mulher que pensava ser a mulher da sua vida, e mesmo tendo em conta o passado de Cassandra, que foi amante de vários homens, penso que homem nenhum tem o direito de exigir favores sexuais. Cassandra destaca que se não se sentisse atraída por ele nunca teria concordado com esta chantagem e mesmo Nathan mais tarde admite ter sido um erro, porém isto demonstra que ela é demasiado submissa e ele demasiado possessivo.

A história de amor, embora a relação entre ambos se inicie deste modo com o qual não concordo plenamente, gostei do modo como o amor se reacende entre ambos, durante estes encontros que partilham, onde percebem que por muito magoados que estejam um com o outro ainda se amam profundamente.

Relativamente às personagens, pessoalmente penso que a autora deveria ter investido mais na caracterização das mesmas, de modo a que as pudéssemos ter compreendido melhor. O passado entre ambas fica esclarecido na obra, tal como o porquê de ambos estarem magoados um com o outro, porém penso que a autora poderia ter caracterizado e contextualizado melhor as personagens, tal como ter investido mais em diálogos, de modo a nos sentirmos mais ligados às mesmas.

Quanto às cenas de cariz sexual, penso que são um pouco em demasia. Quando adquiri esta obra, uma amiga minha leu-o antes de mim e avisou-me que havia uma cena a cada vinte páginas. Pensei que ela poderia estar a exagerar, mas não, tal sucede realmente. As descrições destes momentos são realmente sem tabus, numa linguagem recheada de luxúria e prazer e pessoalmente gosto de ler uma cena ou outra num livro, contudo quando o livro é recheado destes momentos, torna-se, para mim, um pouco maçudo e exagerado. Tal facto poderia ter sido colmatado, se o livro fosse um pouco maior, onde houvesse a tal caracterização e contextualização das personagens, de modo a não se tornar tão fastidioso.

Penso que este género de livros não faz muito o meu estilo literário, mas como ganhei num passatempo outra obra de romance sensual, irei tentar lê-la daqui a uns tempos. 

Embora esta obra não me tenha agradado sobremaneira, esta é somente a minha opinião e gosto pessoal. Tenho a certeza que a outros leitores poderá agradar este género de obras.

Avaliação: 2/5 (Está Ok!)

sábado, 1 de setembro de 2012

A Filha da Minha Melhor Amiga




Nome: “A Filha da Minha Melhor Amiga”

Autora: Dorothy Koomson

Nº de Páginas: 448

Editora: Porto Editora

Sinopse: “A forte relação de amizade entre Kamryn Matika e Adele Brannon, companheiras desde os tempos de faculdade, é destruída num instante de traição que marcará as suas vidas para sempre.
Anos depois desse incidente, Kamryn é uma mulher com uma carreira de sucesso, que vive sem ligações pessoais complexas, protegendo-se de todas as desilusões. Mas eis que, no dia do seu aniversário, Adele a contacta... A amiga de Kamryn está a morrer e implora-lhe que adote a sua filha, Tegan, fruto da sua ilícita relação de uma noite com Nate.
Terá ela outra escolha? Será o perdão possível? O que estará Kamryn disposta a fazer pela amiga que lhe partiu o coração? Uma viagem dolorosa e comovente de auto-conhecimento, uma leitura de cortar a respiração.”

Opinião: Kamryn no dia do seu 32º aniversário recebe um postal da sua amiga Adele, com quem não mantém contacto há vários anos. Neste postal informa-a que se encontra num hospital, bastante doente. Apesar de tudo o que se passou entre ambas, Kamryn dirige-se ao hospital e o que presencia vai contra tudo o que pensara. A pessoa que em tempos foi a sua melhor amiga encontra-se com leucemia e a morrer, completamente diferente da mulher que conheceu. Num último pedido antes de falecer, Adele pede a Kamryn que cuide da sua filha Tegan. Apesar da traição que gira ao volta destas duas amigas, Kamryn adora Tegan e o que inicialmente poderia ser uma loucura, adoptar uma criança, tornar-se-á num amor incondicional.

Sempre ouvi opiniões fantásticas sobre esta obra, que foi a estreia da escritora em Portugal, logo a expectativa e vontade de embrenhar nas suas páginas era enorme. Tive a possibilidade de ler esta obra através de uma troca, fica aqui o meu agradecimento pelo empréstimo.

Nesta história somos confrontados com diversas realidades. Kamryn e Adele eram melhores amigas até há poucos anos, quando a primeira descobre que a amiga a traiu e que dessa traição Tegan foi concebida. Sentindo-se traída e destroçada porque numa mesma noite perde a melhor amiga, o noivo que amava de todo o coração e esta menina amorosa, de quem sempre gostou, Kamryn que tinha batalhado tanto para acreditar nos outros, especialmente nos homens, começa a encarar-se de modo ainda mais depreciativo do que sucedia até então, desistindo do amor. Quando descobre que a amiga está doente e toma conta desta menina, acaba por descobrir uma faceta que nunca pensou que tivesse, o de ser mãe. Encara tudo o que é preciso dar para poder ter e sustentar uma criança. Ela que sempre deu muito valor ao trabalho, descobre que existem acontecimentos muito mais importantes na vida, colocando a família à frente de qualquer promoção que pudesse existir.

Esta obra é sobre amizade, o quanto investimos nesta relação, que muitas vezes pensamos e desejamos ser para sempre, mas que a vida por vezes não permite que tal suceda. Centra-se na capacidade de perdoar o outro e no bem que tal acto faz tanto para o outro, como para nós mesmos, que deixamos de nos sentir perseguidos por aquela dor. É também uma obra de amor, o amor que uma mãe sente por um filho, mas também o amor entre um homem e uma mulher. Nesta obra é-nos demonstrado que o amor é algo que floresce e embora Tegan tenha tido a sua mãe, que amava e sempre a amará, que nunca poderá ser substituída, tem ao seu lado uma mulher que se torna a sua segunda mãe, porque lhe dá todo o amor do mundo, a sustentabilidade e o carinho que tanto necessita para enfrentar as barreiras que se lhe colocam no caminho. Por fim, são abordados dois temas bastante sensíveis, a morte e os maus-tratos infantis. Confesso que me tocou bastante os maus-tratos que Tegan sofreu por parte dos avós. Pensamos sempre nas crianças como alguém a defender, a perseverar e as cenas descritas no livro tocaram-me bastante, até porque são fruto de alguém que deveria dar a esta pequena menina todo o amor do mundo.

Quando li a minha obra de estreia com a autora, “Amor e Chocolate”, havia presenciado que me sentia bastante retratada pela personagem principal e nesta obra sucedeu o mesmo, penso que temos alguns pontos em comum, o que me fez gostar ainda mais deste volume.

Kamryn, Ryn como é chamada por Tegan, sempre teve uma auto-estima baixa, refugiando-se numa faceta gélida, de modo a encobrir os seus sentimentos. Na escola não tinha muitos amigos e era alvo de chacota por parte dos colegas. Quando se torna uma mulher todas as inseguranças, medos, a tornam numa mulher com medo de se entregar a alguém, esperando sempre o pior do sexo oposto. Mostrou ser uma mulher forte, determinada, carinhosa, que é capaz de tudo pelo próximo. Ao passo que com os homens mostrava sempre o seu lado gélido, não deixando ninguém perfurar o seu escudo, com Tegan mostra a mulher fantástica que é, sendo deste modo que conhece Luke, que no primeiro momento antipatizam um com o outro, mas que depois ele percebe a mulher fantástica que é Ryn, sucedendo o mesmo com esta.

Relativamente à personagem Luke, no princípio causou-me alguma desconfiança, confesso. Tratava imensamente bem Tegan, muito carinhoso, atencioso e amável, contudo com Ryn era bastante depreciativo, centrando-se no seu aspecto físico e não na mulher fantástica que é efectivamente. Depois de a conhecer e de perceber quão injusto foi, vive com Ryn momentos tremendamente carinhosos. Houve momentos que me deixaram mesmo sensibilizada. Por fim, achei-o demasiado inseguro, porém o seu passado condicionou tal comportamento e tornou-o ainda mais real.

Numa escrita deliciosa, ternurenta, humorística e emocionante, Dorothy presenteia-nos com uma história de amor paternal, de amor entre um homem e uma mulher possível, personagens imensamente bem caracterizadas e mensagens soberbas. Esta será uma autora que seguirei atentamente, pois tem o condão de nos chegar ao coração.

Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)