Nome: “No Anexo”
Autora: Sharon Dogar
Nº de Páginas: 288
Editora: Edições ASA
Sinopse: “Estou com medo. Com medo
de poder cair e não conseguir parar. Com medo de nunca vir a fazer amor com uma
rapariga. Com medo de ser cobarde. Com medo de estarmos encurralados. Com medo
de podermos ser apanhados. Com medo de que seja o meu fantasma que ali está
parado, à minha espera ao fundo das escadas. Que seja só isto - tudo o que
resta da minha vida." Peter van Pels e a família estão escondidos com os
Franks, e Peter vê tudo com um olhar diferente. Como será ser-se obrigado a
viver com Anne Frank? Odiá-la e depois dar por si apaixonado por ela? Saber que
é tema do seu diário dia após dia? Como será ficar sentado à espera, olhar por
uma janela enquanto outros morrem e desejar estar a combater? O diário de Anne
termina a 4 de Agosto de 1944, mas, nesta história imaginada, a experiência de
Peter continua para além da traição e chega aos campos de extermínio nazis.
"Está aí alguém?", pergunta ele. "Está alguém a ouvir?" Nós
devíamos estar.”
Opinião: Sharon Dogar é além de escritora, com três obras da sua
autoria dirigidas a jovens-adultos publicadas, psicoterapeuta de crianças. Teve
a possibilidade de ler ”O Diário de Anne Frank” quando pequena e mais tarde
através da sua filha, que lhe recordou que vários eram os aspectos que tinham
ficado em aberto no diário desta menina, especialmente no que dizia respeito a
Peter, que compartilhou os dias com ela no anexo em que estavam escondidos.
Nunca tive a possibilidade de ler “O Diário de Anne Frank”. Como sucede à
maioria, conheço a história, pois quando se fala desta época da História é das
primeiras narrativas que assaltam à nossa memória e que mencionamos, tendo também
conhecimento da adaptação cinematográfica. Contudo, a experiência é sempre outra
quando embrenhamos na obra, ainda para mais sendo uma história verídica,
contada na primeira pessoa.
Possivelmente deveria ter lido “No Anexo” depois da obra da Anne, contudo
estava bastante curiosa com este volume, especialmente por ser uma época que
gosto bastante de ler, embora me deixe sempre com um certo sentimento de tristeza
e raiva. Não me arrependo de forma alguma por ter lido este volume, pois foi
uma surpresa muito boa.
Antes de se dar início à obra somos apresentados a um prólogo, escrito pela
autora, que nos contextualiza sobre a história de Anne e o final da segunda
guerra mundial, mostrando-nos também o que levou Sharon a escrever esta obra e
os seus objectivos.
Esta obra encontra-se dividida em duas partes. Na primeira somos
apresentados às ocorrências no Anexo e na segunda como foi viver nos campos de
concentração. Foi interessante poder observar as ocorrências através de Peter,
na primeira pessoa, ainda que em parte ficcionalmente, pois permite-nos
conhecer melhor os intervenientes e ainda sermos confrontados com os momentos
passados depois do anexo.
Gostei bastante dos momentos passados no anexo com Anne, a forma como estes
jovens se começaram a relacionar, pois Peter gostava de uma pessoa antes de ser
obrigado a esconder-se e não simpatizava muito com Anne. Foi interessante ver o
florescer desta amizade, que mais tarde se transformou em algo mais. Na obra de
Anne, sei que não nos é dado a conhecer momentos íntimos entre ambos, mas
também gosto de pensar que tal terá sucedido. Além dos momentos carinhosos
entre estes dois jovens, somos apresentados ao medo e opressão desta época. Era
palpável a fome porque passaram e o medo atroz que possuíam de ser descobertos,
embora tentassem manter uma vida minimamente normal, em que faziam as suas
refeições em conjunto, os mais novos estudavam e os mais velhos realizavam diferentes
tarefas que lhes eram destinadas.
As personagens encontram-se muito bem desenvolvidas, bastante humanizadas e
os seus objectivos e ideais deveras transparentes. Sem dúvida, que me senti
bastante ligada a Peter primeiramente, por ser o nosso narrador, que nos
presenteia com pensamentos e diálogos bastante claros, que nos envolvem e com
alguns desenhos que nos fascinam. Mais tarde também nos sentimos arrebatados
com Anne, que tal como sucede com Peter, primeiro observamos com alguma
estranheza, mas mais tarde com fascínio.
Relativamente à segunda parte, embora tenha sido grande parte ficcional,
pois são poucos os dados que existem sobre o que sucedeu a Peter depois de sair
do Anexo, foram escritos tendo como base todos os dados documentados sobre a
altura. O que era realizado aos judeus que se encontravam no campo de
concentração para onde Peter, o seu pai e o pai de Anne foram enviados. Tenho
de confessar que esta parte da obra me emocionou profundamente, pelos
questionamentos de Peter, que tenho quase a certeza que têm o seu fundo de
verdade, mas pior, por tudo o que ele passou e foi obrigado a fazer de modo a
sobreviver.
Numa escrita simples, ou não fosse narrada na primeira pessoa por um jovem,
mas repleta de emoções, Sharon Dogar apresenta-nos nesta obra ficcional, o que
foi viver com Anne, conhecer e aprender a amar alguém de quem inicialmente não
gostava, a ser enviado para um dos campos de concentração mais cruéis da altura.
Neste volume somos apresentados a várias realidades, ao florescer da amizade,
ao amor juvenil, mas sobretudo à luta pela sobrevivência e à necessidade de
procurar a felicidade.
“No Anexo” foi uma obra que me deu um prazer enorme de ler, que me fez
sorrir com os momentos ternurentos vividos entre Anne e Peter e emocionar-me
com os momentos atrozes que inúmeras pessoas tiveram de atravessar, devido aos
ideais de um homem horrível. Sem dúvida,
que recomendo esta obra que tanto me disse.
Avaliação: 4/5 (Gostei
Bastante!)