Mostrar mensagens com a etiqueta Guerra e Paz. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Guerra e Paz. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A Rapariga dos Pés de Vidro


Nome: “A Rapariga dos Pés de Vidro”

Autor: Ali Shaw

Nº de Páginas: 312

Editora: Guerra & Paz

Sinopse: “Ida Maclaird sofre de um mal misterioso e assustador – lentamente o seu corpo começa a transformar-se em vidro. Regressa então à Terra de Santo Hauda, onde acredita que tudo teve início, com a vaga esperança de encontrar o único homem que poderá ser capaz de curá-la. Midas Crook é um jovem solitário, que viveu toda a vida naquelas ilhas. Quando conhece Ida, sente que há qualquer coisa naquele espírito triste e desafiador que perpassa as suas defesas emocionais. Poderá o amor de Midas impedir que Ida se transforme em vidro?”

Opinião: Ali Shaw, livreiro e colaborador na Biblioteca de Bodleian em Oxford, lançou em 2010 a sua obra de estreia “A Rapariga dos Pés de Vidro”, que recebeu no mesmo ano o prémio Desmon Elliot Prize 2010.

Nesta obra somos apresentados ao casal Midas e Ida, que se conhecem no misterioso arquipélago de Santo Hauda. Midas Crook, um amante entusiástico de fotografia, que trabalha como florista na loja de um grande amigo seu, é um jovem tímido e reservado, que tem dificuldade em dar-se a conhecer aos outros. A fotografia acaba por ser um escape, onde investe, em vez de o fazer no role afectivo. É um jovem com um passado triste, perde o pai muito cedo e acaba por ganhar uma enorme animosidade pelo mesmo. Ida Maclarid é uma jovem aventureira, amante do bom que a vida tem para oferecer, que, de um momento para outro, se começa a transformar progressivamente em vidro. Também esta jovem perdeu a sua mãe muito cedo e irá viver com o seu tio em Santo Hauda, Carl Maulsen, que sempre amou silenciosamente a sua mãe. Midas e Ida acabam por se apaixonar, o que levará este primeiro a tentar salvar a sua amada.

Adquiri esta obra graças a uma sugestão que me fizeram no Goodreads e a uma promoção realizada no início deste ano pela Bertrand, fica aqui o meu agradecimento pela sugestão.

Foi uma surpresa bastante agradável esta obra, pois é diferente de tudo aquilo que li até agora dentro do género. Considero a história bastante original, a particularidade dos seres se transformarem em vidro, devido a uma estranha criatura, que transforma tudo com que contacta neste material. Além desta particularidade somos também apresentados a curiosos insectos fora do comum, que uma das personagens tenta ao máximo proteger.

Estes ingredientes são interessantes e conferem um ambiente mágico à trama, contudo o que nos prende e maravilha é a história de amor impossível entre Midas e Ida e as próprias personagens, que são tremendamente reais.

Midas, como referi anteriormente, é um rapaz muito tímido, com uma dificuldade enorme de criar laços, especialmente no que ao amor diz respeito. Este personagem cria um misto de sentimentos no leitor. Por um lado, senti compreensão por ele porque, por vezes, passamos por tantas provações que se nos torna difícil abarcar em relações ou entregar-nos a alguém. No caso deste jovem foi criado por um pai que nunca demonstrou apreço pela sua mulher, que era tímido e acanhado, refugiando-se na leitura, colocando de parte o melhor que a vida tem para nos oferecer, as relações que mantemos ao longo da mesma. Por outro lado, causava-nos um sentimento de irritação, pois tanta timidez e salvaguarda, embora seja instintiva e difícil de contornar, fá-lo perder muito do que a vida tem para lhe dar.

 Sendo estas duas das mensagens da obra. A primeira que a educação que recebemos molda a pessoa que seremos num futuro, o que poderá ser positivo, mas que nos poderá incutir receios e dificuldades de seguir em frente e de abarcar a felicidade. A segunda, que devemos aproveitar o melhor que a vida tem para oferecer e que nunca devemos deixar nada para amanhã, pois a vida é demasiado curta para ser desperdiçada, sem agarrarmos com unhas e dentes o que ambicionamos.

Ida é uma jovem que experimentou de tudo um pouco nos seus vinte anos de vida, uma aventureira, que experimentou inúmeros desportos radicais, que visitou os quatro cantos de mundo, mas que infelizmente vê a sua vida ser colocada em risco por esta misteriosa particularidade de se começar a tornar em vidro. Quando conhece Midas, fica encantada com o modo deste jovem, tentando ao máximo perfurar o seu escudo e iniciar uma relação com o mesmo. Graças a ela, Midas compreende que terá de enfrentar os seus medos de frente, pois como se costuma dizer, os medos são como os pesadelos, quando acordamos desaparecem. Foi uma personagem que igualmente nos transmitiu diversos sentimentos. Tristeza por ser tão jovem e cheia de vitalidade, contudo sem ter grande possibilidade de contornar este obstáculo, sendo enorme o sentimento de impotência e desconforto de saber que alguém com a vida toda pela frente, poderá não encontrar uma solução para este problema e, por outro lado, por ser tão forte e destemida pelos outros.

Relativamente à escrita, Ali Shaw possui uma escrita mágica, com uma beleza indescritível. Possuidor de descrições soberbas, de personagens imensamente bem retratadas e genuínas, que nos transportam para este arquipélago e nos levam a crer que esta história poderia realmente ter acontecido. A escrita leva-nos em certos momentos a ler a obra mais devagar, devido às descrições, contudo não o considerei um aspecto negativo, pois apreciei realmente o seu estilo.

O aspecto negativo que apontaria seria porventura o final, pois foi deixado demasiado em aberto. No que ao casal da trama diz respeito, gostei de eu mesma idealizar o final que achei mais propício, contudo no que à estranha criatura se refere, gostaria de ter sabido mais, de ter compreendido mais sobre ela.

Esta obra, portadora de mensagens intemporais, mostra-nos que o amor quando genuíno, vence qualquer barreira e que nunca devemos desistir de procurar a pessoa que amamos. É, sem dúvida, uma obra muito especial, original e repleta de mensagens e pequenos momentos deliciosos.

Não posso afirmar que a recomendo a toda a gente, pois encontramo-nos perante uma obra muito singular, porém fiquei rendida e seguirei atentamente as seguintes obras do autor, que sejam publicadas na língua de Camões.

Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)