quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Presa e Predador


Nome: “Presa e Predador”

Autor: Gordon Reece

Nº de Páginas: 240

Editora: Saída de Emergência

Sinopse: “Shelley e a sua mãe já sofreram a sua dose de ameaças e violência. Quase morta por um trio de agressores na escola, e ainda fragilizada pelo humilhante divórcio dos pais, a jovem encontrou refúgio com a mãe num retiro sossegado no campo.
Os problemas parecem ter terminado e nada lhes dá mais prazer do que saborear uma vida segura em torno de livros, jardinagem, chocolate quente e música à lareira. Mas na véspera do seu aniversário, um visitante perturba a paz da mãe e filha e algo em Shelley rebenta.
O que era um idílio transforma-se numa história de medo, lealdade familiar e luta pela segurança, mesmo que implique quebrar todas as convenções morais. O que está certo ou errado quando a sobrevivência está em jogo? Quando é que a presa se transforma em predador?”

Opinião: Gordon Reece é um escritor e ilustrador nascido em 1963 em Inglaterra. O autor estudou Literatura Inglesa na Universidade de Oxford e especializou-se em Literatura Contemporânea. Depois de vários anos a trabalhar como professor, decidiu formar-se em Direito e exerceu durante alguns anos advocacia. Em 1999, emigra para Espanha e permanece no país durante seis anos. Entre o Reino Unido e Espanha publicou vários livros infantis ilustrados e romances gráficos. “Presa e Predador” é o seu romance de estreia e encontra-se traduzido em mais de 15 países.

Shelley tem 15 anos e encontra-se no penúltimo ano de liceu. É uma jovem normal, com sonhos e receios característicos da adolescência, que ambiciona um dia entrar na faculdade, contudo há um ano que a sua vida mudou. Vítima de Bullying na escola pelas pessoas menos prováveis, esta adolescente sofre em silêncio a violência psicológica sucedida pela física, até que um dia é agredida de um modo que a moldará para sempre.

Após este acontecimento, Shelley muda-se com a mãe para uma casa de campo, praticamente isolada, e as coisas começam a voltar ao normal, criam rituais e Shelley começa a ter aulas em casa enquanto a mãe trabalha. Todavia, uma noite a paz conquistada é colocada em causa por causa de um estranho e todas as provações porque Shelley passou na escola a farão realizar uma escolha que moldará o seu futuro e o da sua mãe.

Desde que li a sinopse desta obra que me senti cativada, por abordar o tema do Bullying e por parecer remeter a como situações extremas podem moldar o indivíduo e levá-lo a cometer futuramente actos atrozes. Pelo que foi com alguma curiosidade e expectativa que iniciei esta leitura e posso afirmar desde já que não foi de forma alguma uma desilusão, tendo-me deslumbrado desde o início.

Nesta obra somos confrontados com vários temas, desde a forma como por vezes nos sentimos desajustados na adolescência, em que sentimos que não pertencemos a lado nenhum e que não somos aceites. Aborda igualmente, de uma forma soberba, o Bullying, a realidade do que é ser vítima de violência; a forma como se sofre em silêncio por se pensar que não se deve sobrecarregar outra pessoa com essa dor; o modo como essa violência molda a pessoa, a leva fechar-se e a mudar, não só as suas rotinas, mas também enquanto pessoa. Defendendo igualmente que as provações porque passamos nos moldam e definem aquilo que seremos futuramente, sendo que a linha entre a inocência e as trevas é muito ténue. Por vezes um indivíduo encontra-se em situações de tal modo extremas que comete actos atrozes e isso coloca-nos a pensar até que ponto esse acto poderá não ser justificável, tendo em conta o passado do mesmo e o ambiente em que esse acto ocorreu.

Relativamente às personagens gostei muito de ambas. A mãe por todas as provações porque passou, desde um casamento sem futuro, em que o marido a acaba por trair, o que leva ao fim do casamento, à forma como defende a sua filha afincadamente e tudo o que faz para a sua sustentabilidade e felicidade. Quanto à Shelley, é impossível não nos sentirmos ligados a ela, por todas as provações porque passa e a forma como as mesmas a moldam, até ao modo como tenta reconstruir a sua vida e dar a volta por cima. Ambas as personagens são bastante complexas, baralhando-nos um pouco e este aspecto leva-me a outro dos aspectos que mais apreciei no escritor, ao modo como nos consegue baralhar os sentimentos. Começamos a obra praticamente à beira das lágrimas, com todas as provações porque Shelley passa na escola, sentindo pena e solidariedade por esta menina e raiva pelas pessoas que lhe fazem os actos mais cruéis. Para mais tarde sentirmos um misto entre revolta e até um pouco de receio relativamente aos seus actos.

Numa escrita fluída e tremendamente cativante, Gordon Reece apresenta-nos uma história onde o Bullying, recomeços, a lealdade e a tentativa de sobrevivência são uma realidade, conjugadas com cenas de terror, suspense e adrenalina. Nesta obra é defendido que nunca é tarde para refazermos a nossa vida, que com coragem somos capazes de tudo e que devemos fazer frente aos nossos receios e não deixar que eles tomem grandes proporções antes de agirmos.

Frases a Reter: “Tudo o que me ocorria era que, por mais intimidade que tenhamos com alguém, há limites, barreiras entre nós que não podemos mesmo ultrapassar, coisas que nos tocam tão fundo que não podem ser partilhadas com mais ninguém. Talvez seja o que não podemos partilhar com os outros o que verdadeiramente nos define.”


Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)

2 comentários:

  1. Olá Rita,

    Um livro que me parece bem cativante e no fundo muito atual, pois tem como pano de fundo o Bullying.

    Já tinha lido comentários no sentido de estarmos na presença de um bom livro, o teu comentário só vem confirmar e vejo que te cativou.

    A ver se um dia o leio :)

    Bjs e boas leituras :)

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    1. Olá Paulo :)

      É muito muito cativante e as cenas de Bullying tornam-no bastante real, levando-nos a pensar que esta história poderia ter efectivamente existido. Gostei muito por esta particularidade e pela carga psicológica que contém, levando-nos a questionar constantemente sobre o que faríamos, se efectivamente as personagens acertaram nas suas escolhas ou não. É mesmo muito bom, na minha opinião! :)

      Já sabes que se quiseres posso emprestar, acredito que poderás gostar.

      Beijinhos e boas leituras

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