quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A Mão Esquerda das Trevas



Nome: "A Mão Esquerda das Trevas"

Autora: Ursula Le Guin

Nº de Páginas: 256

Editora: Editorial Presença



Sinopse: Livro vencedor dos Prémios 'Hugo' e 'Nebula' (1969) traça um caminho de extrema originalidade por um mundo gelado de seres andróginos. Genly Ai é enviado para o planeta Gethen por uma federação interestelar, o Ecuménio. Governado por um rei extravagante, a estranheza deste universo acentua-se na multiplicidade de géneros sexuais, em que os seres podem ser simultaneamente mães e pais de diferentes crianças. Genly, o enviado para esta missão sofre uma mudança de pensamento e aprende a aceitar as diferenças abismais que encontra na forma de relacionamento entre estes seres.
Le Guin explora criativamente os temas da identidade sexual, incesto, xenofobia, fidelidade e traição deixando, como na maior parte dos seus trabalhos, uma poderosa mensagem social que nos convida a ir além do racismo e sexismo. Um livro fascinante do princípio ao fim descrito como “um brilhante rasgo de imaginação” e considerado um dos grandes romances do século XX. Um imperdível clássico de ficção científica.


Opinião: "A Mão Esquerda das Trevas" é uma das mais famosas obras de Ursula Le Guin, tendo vencido dois consagrados prémios Nebula em 1969 e Hugo em 1970.

Esta obra encontra-se dividida em três tipos de capítulos. Uns tendo como narrador, na primeira pessoa, Genly Ai, onde acompanhamos as suas desenvolturas num mundo que lhe é desconhecido, para o qual foi enviado para tentar realizar uma aliança entre este estranho mundo e o seu, denominado de Ecuménio. Contudo, a missão, que à partida já se poderia avizinhar difícil por ser um estranho numa terra estranha, torna-se ainda mais difícil, quando duas das grandes nações do planeta Inverno, Karhide e Orgoreyn, envolvem Genly nos assuntos políticos e repletos de traições, que o levarão a correr risco de vida.

Em outros capítulos o narrador, igualmente na primeira pessoa, é Estraven, um governante patriota local, que descreve em diário todas as suas peripécias e de que modo é que, contra tudo o que seria de se esperar, ajudará Genly a sobreviver às maquinações engendradas por estas duas nações, colocando a sua própria vida em risco. É também nestes excertos do seu diário que passamos a conhecer um pouco mais a sua personalidade e cultura.  Tendo sido muito bom presenciar a desenvoltura da amizade de ambos, que se inicia numa desconfiança mútua, mas que termina numa amizade repleta de confiança e amor.

Os restantes capítulos subjacentes na obra referem-se a histórias, lendas que nos contextualizam de modo mais pleno  com o mundo onde se desenrola a acção, que tal como foi subentendido anteriormente é um mundo com condições extremamente adversas, onde as pessoas são educadas desde cedo a enfrentar a fome e o frio; com uma população assexuada, que nunca chega a ser homem ou mulher, podendo cada um dos indivíduos ser mãe de alguns filhos e pai de outros, aspecto possível quando atingem o kemmer, estado de capacidade sexual, quando adquirem características ora femininas, ora masculinas. 

Confesso que me custou um bom bocado entrar na estória, o momento em que comecei a lê-lo não era o melhor em termos de tempo e mesmo de vontade de ler o que invariavelmente condicionou a minha leitura, mas também pelo mundo complexo em que nos vemos inseridos, com todas as suas expressões estranhas e a mudança de narrador, que no princípio tive dificuldade em discernir quem era o narrador e o seu papel na trama. 

Contudo, esperei por uma altura melhor e consegui gostar bastante da obra. O mundo criado é deveras interessante, pelo contaste existente entre os diferentes mundos e as suas populações. Outro aspecto que me agradou especialmente foi a visão de um humano, numa terra estranha, porque acontece pensarmos sempre qual seria a nossa reacção se nos confrontássemos com um alienígena. Mas e se fosse o contrário e fossemos nós o extraterrestre? Sem dúvida uma visão interessante e que nos leva a pensar. Adorei as maquinações políticas existentes no mundo, que nos demonstra que poderão ser mais parecidos connosco do que o que seria de se esperar. Tendo gostado muito também do aprofundamento e desenvolvimento das personalidades e amizade entre Genly e Estraven, que foram personagens fantásticas.

Em termos de escrita gostei da forma de narrar da Ursula Le Guin, pois esperava algo mais maçudo ou pesado do que acabou por acontecer. Penso que a autora tem uma imaginação impressionante e um grande dom da palavra, o que me levará a ler mais livros dela, certamente.

Em suma, faço um balanço positivo deste "A mão esquerda das trevas", que foi a minha estreia com a autora, e fico bastante curiosa por ler mais coisas dela, tendo até curiosidade de visitar este mundo em específico e os seus habitantes.

Avaliação: 4/5 (Gostei Bastante!)

12 comentários:

  1. Por acaso estava a estranhar a dificuldade de entrarmos no seu universo, pois recentemente li a serie Terramar e a escrita da Ursula é simples e muito acessível.

    Mas pode ser um universo bem mais complexo do que aquele que encontrei em Terramar e dai até que nos enquadremos no enredo possa ser algo que não aconteça logo de inicio. ;)

    Seja como for fiquei curioso por ler o livro (ai Rita já são tantos, graças aos teus comentários :P), já sabes que se quiseres ler a serie Terramar (onde conhecerás o feiticeiro GED ;)) é só dizer. Sei que tens os primeiros da serie, mas tenho os restantes que te faltam.

    BJ

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  2. De facto, a EarthSea é bastante interessante, com a tal escrita simples que facilita a leitura. É um conceito mais tradicional da fantasia, mas gostei bastante. Não é nada maçudo.

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  3. Paulo, penso que a minha dificuldade em entrar na obra residiu mais no meu tempo e cabeça para tal, porque demorei muito tempo a ler as primeiras 100 páginas e confesso que não estava a perceber nada até este ponto, mas depois de arranjar tempo e cabeça para tal terminei-o num dia. A escrita como mencionei no meu comentário é realmente simples e acessível e acredito que quem lê "Duna" e o compreende, ler este não custa nada. :P

    Novamente friso que depois destas primeiras 100 primeiras páginas li a obra muito bem e acabei por não estranhar, portanto penso que a parte da longa demora e dificuldade em entrar no mundo, era devido a mim e não tanto à obra...

    Lol. O aspecto positivo da coisa, é que sabes que empresto. :D Tenho os três primeiros dessa saga. Depois peço-te emprestada a continuação, obrigada. :)


    Carla M. Soares, também considero a escrita da autora muito acessível e nada maçuda, aspecto que estava à espera de encontrar nas suas obras, nem sei bem porquê. Quanto a essa saga pode ser que ainda a leia este ano. :)

    Beijinhos e boas leituras para ambos. :)

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  4. Já percebi, estás a dizer-me para não ler as primeiras 100 páginas, só depois a historia vale a pena LOL

    Eu ando a ler mais FC e até tenho alguns livros da Ursula que são também FC, sem ser a Terramar que é mais Fantasia sem duvida.

    Depois combinamos isso, já sabes ;)

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  5. Lol. Nada disso, até pode ser que como estás habituado à autora e conheces muito mais FC, fiques desde logo rendido. Espero que sim. :)

    Fazes bem em investir cada vez mais no género, acho-o fantástico, embora ainda seja muito desconhecedora... Penso que ela tem bastantes livros editados em português, tenho de pesquisar sobre isso. :)

    Claro que sim. :)

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  6. Olá Driqa!

    Já tinha reparado no novo visual, quando foi mencionado no facebook, embora não tenha comentado. Mas vou fazê-lo. :)

    Obrigada pela visita. Beijinhos e boas leituras. :D

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  7. Olá Rita,

    Não conheço muito mais FC do que tu, só depois de ler o Duna do Herbert é que me levou a ler mais livros.

    Chegar à Ursula foi um tiro e como gostei, avancei para Jack Vance, Philip Farmer e claro Roger Zelazny.

    Tudo livros que estão ao teu alcance, tenhas tu tempo para os ler.

    Bem mas sei que o teu desafio para 2012 é mais para a Fantasia e o Romance Histórico, mas se puderes lê estes livros que valem bem a pena.

    Com isto tudo até já tenho saudades de voltar à coleção Argonauta e tenho tantos ainda pela frente :D

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  8. Compreendo-te. Antes de Duna também não tinha lido muita coisa, uns contos e um livro. Depois deste li mais uns 3 ou 4, tendo bastante curiosidade em ler mais dentro do género.

    Tenho mais 6 livros da Ursula; um do Herbert que penso ser Fc: "Os olhos de Heisenberg", "O homem do castelo alto", um do Fritz Leiber e uma colectânea de contos da SdE. Tenho de começar a ler o que por aqui anda...

    Obrigada, sei que sim. Digo-te o mesmo. Se quiseres algum dos que mencionei anteriormente, não me custa nada. :)

    Vou tentar fazê-lo. O ano ainda agora começou... Terei certamente oportunidade para os experimentar. :)

    Também tenho muitos e ainda não li nenhum. :P

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  9. Do género SCF, também li há uns anos os Rama, de Arthur C.Clark, e gostei muito. O giro foi que o primeiro veio num jogo de computador, estilo aventura gráfica, que joguei na altura e adorei. O segundo comprei... em Nova Iorque! Foi quase o único que lá comprei, não havia dólares para muito...
    Li há pouco tempo o Inside Out e o Outside In da Maria v Snyder. gostei mais do primeiro, mas no conjunto são muito cool.

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  10. Por acaso tenho curiosidade em ler algo do Arthur C Clark e também a Fundação do Assimov.

    A ver se na próxima feira do livro de lisboa trato disso.

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  11. Carla, obrigada pelas sugestões. Confesso que só tinha ouvido falar do primeiro autor, mas vou pesquisar sobre os restantes que mencionas.

    E tal como o Paulo refere, se os encontrar na feira do livro, irei certamente lê-los. :)

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  12. Obrigada pela chamada de atenção Pamela. Vou pesquisar sobre isso. :)

    Beijinhos e obrigada pela visita. :)

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