terça-feira, 9 de julho de 2013

O Teu Rosto Será o Último


Nome: “O Teu Rosto Será o Último”

Autor: João Ricardo Pedro

Nº de Páginas: 208

Editora: Leya

Sinopse: “Tudo começa com um homem saindo de casa, armado, numa madrugada fria. Mas do que o move só saberemos quase no fim, por uma carta escrita de outro continente. Ou talvez nem aí. Parece, afinal, mais importante a história do doutor Augusto Mendes, o médico que o tratou quarenta anos antes, quando lho levaram ao consultório muito ferido. Ou do seu filho António, que fez duas comissões em África e conheceu a madrinha de guerra numa livraria. Ou mesmo do neto, Duarte, que um dia andou de bicicleta todo nu.
Através de episódios aparentemente autónomos - e tendo como ponto de partida a Revolução de 1974 -, este romance constrói a história de uma família marcada pelos longos anos de ditadura, pela repressão política, pela guerra colonial.
Duarte, cuja infância se desenrola já sob os auspícios de Abril, cresce envolto nessas memórias alheias - muitas vezes traumáticas, muitas vezes obscuras - que formam uma espécie de trama onde um qualquer segredo se esconde. Dotado de enorme talento, pianista precoce e prodigioso, afigura-se como o elemento capaz de suscitar todas as esperanças. Mas terá a sua arte essa capacidade redentora, ou revelar-se-á, ela própria, lugar propício a novos e inesperados conflitos?”

Opinião: João Ricardo Pedro nasceu em 1973, na Amadora, e licenciou-se em Engenharia Electrónica pelo Instituto Superior Técnico. Trabalhou durante mais de dez anos em telecomunicações e foi na Primavera de 2009 que começou a escrever. “O Teu Rosto Será o Último” é o seu romance de estreia, que venceu o Prémio LeYa 2011.

Nesta obra somos apresentados a três gerações distintas, desde a Revolução de 25 de Abril de 74 até à actualidade, onde acompanhamos diversos saltos temporais, que, embora não se encontrando sinalizados, não confundem o leitor. Conhecemos o doutor Augusto Mendes, um médico conceituado, o seu filho António que teve por duas vezes na Guerra em África e o seu neto Duarte que temos a possibilidade de o conhecer desde pequeno, sendo portador de um enorme talento.

Desde que tomei conhecimento desta obra que senti curiosidade em folheá-la, não só por ter vencido um Prémio LeYa, mas também pelo título e sinopse cativantes. Contudo, confesso que terminei esta leitura com um misto de sentimentos. Por um lado, houve aspectos que me cativaram bastante, a forma fantástica como eram descritas as relações entre as pessoas, os elementos históricos, a escrita singular e cativante do escritor, capaz de nos embrenhar na trama e de nos fazer ansiar por mais revelações desta família. Contudo, também houve vários aspectos negativos, tais como a utilização excessiva de impropérios, que na minha opinião não eram necessários. Concordo que poderá tornar a obra mais real e espontânea, todavia penso que foi utilizado exageradamente este tipo de linguagem. Outro aspecto que não me agradou particularmente foram as descrições pormenorizadas de actos quotidianos, como por exemplo uma descrição exaustiva de uma ida às compras, que era desnecessária. Também houve vários actos desunamos e de violência que nada de novo trouxeram à trama e que o leitor não consegue compreender a sua pertinência e, por último, houve várias pontas soltas na obra, em que vários elementos não são devidamente explicados ao leitor e que, no fim, sentimos que foram mais as coisas que ficámos por saber do que aquelas que efectivamente descobrimos.

No que se refere às personagens, foi fácil compreender e sentirmo-nos ligados a esta família. Penso que um dos aspectos mais fortes do escritor centra-se na forma como consegue criar personagens bastante humanas, que sentimos que poderiam ter existido, tal como criar as suas histórias de vida de forma bastante fidedigna. É evidente que o escritor pesquisou bastante sobre esta altura da história e tal facto associado às personagens bastante humanas levaram a que acabasse por apreciar a obra, apesar dos aspectos negativos que mencionei anteriormente.

Numa escrita singular, com uma linguagem muito própria, João Ricardo Pedro apresenta-nos, deste modo, uma família em três gerações, mostrando-nos a sua vida, os seus receios e sonhos, polvilhada com alguns elementos históricos, que nos transportam para a altura descrita.

Em suma, “O Teu Rosto Será o Último” foi uma obra que me agradou, embora tivesse vários aspectos que não me prenderam. Penso que embrenhei nesta leitura com algumas expectativas, o que me levou a esperar algo diferente, contudo penso que não deixa de ser uma boa obra, que consegue, em certa medida, descrever o povo português e as suas vivências.

Avaliação: 3/5 (Gostei!)

Sem comentários:

Enviar um comentário